Crítica


Um Beijo Roubado

Por Carolina Pádua

Wong Kar-Wai, nascido em Shanghai tem uma forma de construir sua narrativa muito peculiar. Diretor de 15 filmes, a maioria tida como cult, ele fez sucesso no mundo dos blockbusters com “Um beijo roubado”, seu primeiro filme em inglês. O cineasta cult manteve sua forma de construção de narrativa, mas é possível que o sucesso do filme se deva também aos atores que compõem o elenco e ao idioma utilizado. O personagem principal é interpretado pelo queridinho das garotas Jude Law, mas Natalie Portman e Rachel Weisz também embelezam o filme, principalmente pela ótima atuação das duas atrizes hollywoodianas.

Como atriz principal está a cantora Norah Jones, que durante os 90 min de filme é a que menos se destaca. Sem muita expressão ela não provoca nenhum grande envolvimento com o espectador. É o que pode se chamar de atuação "água com açúcar". O interessante é pensar que ela foi a única opção do cineasta, apesar de sua inexperiência no cinema. A cantora interpreta Elizabeth, uma mulher que após ter descoberto a traição do namorado resolve viajar, se conhecer e viver novas experiências para superar a separação.

O ponto alto do filme é sua fotografia e direção de arte. É todo filmado com jogo de reflexos, alternância de profundidade de campo e a movimentação das câmeras, apresenta o filme por perspectivas diferentes. Nas cenas em que Elizabeth conversa com Jeremy (Jude Law) no restaurante dele, o diretor abusou do recurso de filmar através dos vidros. Nesse caso, o que estava escrito nas paredes de vidro do bar ficam desfocados em um primeiro plano, o que enriquece a imagem sem poluí-la. Isso faz com que o espectador não se sinta parte daquela cena; pelo contrário, isso serve para mostrar como aquele momento é só dos personagens.

Os espelhos também são usados como uma outra maneira de ver o filme, sem ser aquela do espectador onipresente. Como uma forma de espiar o que acontece na intimidade de Elizabeth e Jeremy, por vezes o espectador é convidado a vê-los por seus reflexos. Além disso, a dinamicidade do filme às vezes é substituída por planos sequencia que possibilitam uma maior imersão do espectador no filme, ainda que como mero observante. Em uma cena onde Elizabeth assiste a uma fita antiga gravada pela câmera de segurança do bar de Jeremy e vê seu namorado com outra mulher, eles se abraçam e a câmera registra o momento de longe, passando atrás de paredes do bar, sem filmá-los de forma direta e em close.

Outro recurso também muito utilizado é a imagem desfocada para simbolizar passagem de tempo, o que dá ritmo à narrativa de forma interessante e criativa. Sem dúvida “Um beijo roubado” é um filme que vale a pena ver. Talvez nem tanto por sua história, mas pela sensação diferente diante de uma tela que ele pode provocar.

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