Reportagem

Como ‘emplacar’ um filme no mercado?

Nós apuramos um pouco do dilema enfrentado pelos jovens cineastas para divulgar seus filmes e sim, é difícil, mas acredite: não é impossível

Por Priscilla Prestes

O objeto de desejo da maioria dos jovens aspirantes a cineasta é ter seu filme emplacado nas salas de cinema. Para esse fim e – diga-se de passagem – sem algum exagero, um longo caminho deverá ser percorrido. As dificuldades são muitas e estão presentes, inclusive, nas universidades. Problemas como a longa espera pela locação de equipamentos, a falta de aparatos técnicos necessários para a realização e decupagem dos filmes, a arrecadação de verbas, a formação de parcerias e o tempo que será dedicado ao projeto, sem falar na comercialização e distribuição da obra cinematográfica em geral são apenas alguns dos obstáculos que se colocam no caminho do jovem cineasta.

Apesar desses empecilhos, existe também uma multiplicidade de atitudes que constroem e contribuem para o andamento dos projetos tão sonhados pelos jovens, como uma imensa vontade de correr atrás e fazer a diferença, dotada de dedicação e obstinação – características encontradas nos grandes gênios –, além da capacidade de não se resignar diante dos obstáculos e situações desagradáveis.

Com “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, jovens cineastas vão à luta e trabalham para tornar real o que sua imaginação e criatividade fertilizaram. A escolha das parcerias e o estudo sobre qual seria o melhor meio de ter sua produção veiculada tornam-se os pontos principais. O tempo é a engrenagem que a tudo impulsiona. Mas o que fazer quando falta esse tempo? Quando os compromissos da vida adulta impedem o “vir à tona” desse hobby, este que o mesmo tempo transformou em ofício, como não se perder da idéia primeira?

A verdade é que estamos bem distantes de uma resposta una e concisa para as questões acima. Na busca de algumas respostas conversamos com o estudante Vitor Alli, que nos situou sobre a atual brigada dos universitários em ter seus filmes “emplacados” no mercado. Vitor é o autor de Como fazer um Curta-Metragem Experimental e Pseudo-Intelectual, curta que virou um hit na internet e ocupou o 1o lugar nas categorias “Melhor Filme” no Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba, o “Putz”, assim como “Melhor Ficção e Melhor Filme” eleito pelo Júri Popular no CurtaCom de Natal. Ele atualmente cursa o 7o período de Rádio e TV na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ) e está às voltas com a difusão de outros curtas de sua autoria: Sessão de Gala e Eu Acho que eu Estou Perdendo Você, este a ser lançado até o fim do ano. Confira abaixo a entrevista.

Que medidas a universidade realiza hoje como incentivo à produção audiovisual?
Vitor Alli: Dentro da Escola de Comunicação da UFRJ, o incentivo à produção vem especialmente da disponibilidade dos equipamentos. Hoje, os alunos têm acesso à produção, basta agendar os equipamentos e produzir – e isto não é visto em toda universidade, particular ou pública que seja. Este quadro melhora a cada dia, e digo isto comparando à situação de quando entrei para a ECO com a que vejo hoje na Escola.

Quais iniciativas podem ser tomadas a fim de melhorar esse quadro?
VA: Acredito que o que falta para melhorar o quadro na UFRJ é justamente aumentar o controle sobre as produções que a universidade apóia, sobre o acervo completo destas produções e mesmo uma cobrança sobre os alunos, que utilizam os espaços, os equipamentos e toda a infra-estrutura, mas não têm a obrigatoriedade de mostrar os resultados, se inscrever em festivais etc. Parece esquisito pedir mais controle, mas é como uma contra-partida para a universidade. Não o controle em si, mas a divulgação das obras e a cobrança desses resultados, afinal, como disse, usamos os espaços e equipamentos deliberadamente (que ótimo!). Para mim, a faculdade tem que te preparar para tudo, inclusive para a divulgação, que é onde o bicho pega. Algumas iniciativas por parte dos alunos também podem contribuir. Há pouco tínhamos a idéia de fundar uma cooperativa/ incubadora de projetos, que acabou ficando de lado pela falta de tempo, mas a proposta já circula entre outros alunos e seria muito bacana se botassem para funcionar de verdade.

Como buscar esses incentivos fora da universidade?
VA: Cartas de apoio são um bom começo. Bater de porta em porta propondo uma troca bacana funciona bem, desde que você saiba o que está fazendo e para quem está propondo. Outras formas são os editais do governo, das empresas e os concursos e festivais. Mas estes apoiadores fazem parte de uma realidade bem diferente da universidade: o compromisso segue mais pelo lucro das partes do que pelo processo, por seu aprendizado propriamente dito. Por isso é importante uma postura profissional antes mesmo de se lançar no mercado. Há também quem promova festas, rifas, brechós e coisas do tipo para arrecadar e produzir. Nestas horas vale mesmo a criatividade.

Quais as suas expectativas em relação ao mercado audiovisual?
VA: Eu acho que nos últimos anos houve, sim, um alargamento do mercado audiovisual como um todo. Mas não sei se essa sensação também pode ser pelo fato de que a gente muda de prisma quando se insere no contexto. Ainda assim, creio que independente da qualidade das produções, produz-se muito e que o número de formas de apoios, editais, incentivos tanto de entidades públicas quanto de particulares também tenha crescido.

Quais as dificuldades em inserir uma produção independente no mercado?
VA: Depende do que você quer para sua produção, qual o circuito. Eu sou a favor dos filmes em todos os lugares, disponíveis a qualquer momento, em qualquer buraco. Mas isto não deve ser regra. Há quem prefira fazer uma carreira de festivais e ponto final. Há quem acredite que a exibição em salas de cinema seja a mídia ideal para seu filme. Quanto a isto não há o que discutir, o formato do filme é escolhido na pré-produção, ou seja, ele é concebido já se pensando na exibição, o que pode ditar certas questões estéticas. Entro neste mérito porque quem quer o circuito das salas de cinema (pensando em curta-metragem), deve recorrer a cineclubes, festivais e mostras, que hoje estão bastante disponíveis, mas ainda prescindem de mediadores, ou seja, curadores. No mundo digital já não se tem essa mediação, o esforço é outro. O importante é que há espaço. Sobre fazer cinema independente, queria acrescentar também que não tenho orgulho de fazê-lo, pois este é ainda mais dependente que qualquer outro. Digo isto, pois quando não se paga sua equipe, ainda que haja amor e dedicação ao trabalho, se não houver disponibilidade de tempo, o trabalho se estende demais. Além disso, há as contrapartidas que podem limitar seu filme e a difusão dele. Uma produção universitária não é independente. Há muito que se debater nesta questão.

Que caminhos alternativos podem ser seguidos de forma a cumprir a meta inicial, ou seja, ter um filme “emplacado”?
VA: Acredito que não existam. A pergunta que paira é: “alternativo a quê?”. Não considero o circuito da Internet como alternativo pois minha produção é voltada para isso. As exibições em salas de cinema e vídeo são mídias agregadas, no meu caso, paralelas, mas que também funcionam. A dificuldade de inserir uma produção no mercado hoje reside na própria pretensão do filme, ou do diretor. Se você quiser ganhar dinheiro com venda de exemplares do seu curta em DVD, devo dizer que nem sei por onde começar. Se você quer um espaço de visibilidade, a Internet pode ser um caminho fabuloso. E por aí vai. Depende do que você quer e de como trabalhar em cima da mídia que você escolher. Os caminhos de difusão na hora de “emplacar” é que acabam contando mais. Mas não existe regra, segredo ou receita. É uma questão de tato e estudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário